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É habitual dizer-se que nos momentos de aflição é quando se descobre o valor das pessoas. Durante os dias da Semana Santa, vimos que os discípulos não se comportaram da melhor forma. Encontrar o sepulcro vazio também não ajudou muito. Apesar de todos os anúncios de Jesus sobre a ressurreição, só Maria Madalena, de madrugada, foi ao sepulcro, sem qualquer esperança, mas cheia de compaixão que nela surge por causa do corpo sofrido daquele homem e pela necessidade de chorar por quem a tinha tirado da beira do precipício da vida. Simão Pedro, apesar de ter negado Jesus no pretório, é o primeiro a entrar no sepulcro e a ver os sinais que mostram que o cadáver de Jesus não foi roubado, mas que desapareceu. Mantém-se no silêncio e nada diz sobre o que vê. Terá que ser o discípulo amado, este personagem misterioso que aparece nos momentos cruciais do quarto evangelho como modelo a seguir pelos discípulos de todos os tempos, a professar a fé: “viu e acreditou”.
É esta atitude crente que tudo esclarece e tudo transforma. Fez recordar tantos momentos vividos com Jesus. Ele tinha sido rejeitado e condenado pelas autoridades, por aqueles que acreditavam ter o poder de julgar em nome de Deus. Todavia, Deus colocou-se junto do seu filho amado, resgatando-O e glorificando-O. Esta atitude de Deus e a vitória de Jesus transformam tudo. De certeza que, naquela altura, ninguém tinha consciência das consequências que a ressurreição de Jesus iria ter nas nossas vidas e na história da humanidade. Mas já suspeitavam que nada ficaria igual a partir daquele momento; era o início de uma onda crescente que iria varrer todo o mal, a injustiça e a morte, e levar à plenitude o plano de Deus, anunciado nas Escrituras. Era necessário que Jesus fosse rejeitado, que morresse na cruz e ressuscitasse.
Como o discípulo amado, também cada um de nós é convidado a ver e a acreditar. Assim, somos transformados pela força da morte e ressurreição de Jesus. Morte e ressurreição. Não é possível a segunda sem a primeira. Jesus não tem uma varinha mágica para resolver todos os problemas de uma forma imediata. Mas revelou-nos que o caminho da obediência ao Pai e o amor até ao fim são as formas eficazes para vencer o mal e que, apesar das dificuldades, a vitória é certa.
Por vezes, também nos esquecemos das consequências da ressurreição de Jesus nas nossas vidas e na história da humanidade. Preferimos permanecer na angústia deprimente e no desânimo, em vez de apostarmos com confiança na vida que Ele nos concede. Não vale a pena escravizarmo-nos com as coisas da terra, não vale a pena vivermos com uma moral conservadora ou com medo de perdermos o pouco que temos. Temos de aspirar aos bens do Alto, onde está Cristo vitorioso. Esta vitória ainda não se manifestou em vários sectores do mundo, mas o sinal do túmulo vazio manifesta que não há pecado que não possa ser perdoado, não há injustiça que não possa ser reparada, não há morte que não gere vida. Celebremos a Páscoa com alegria e esperança, alicerçados na nossa fé, iluminados pela luz que nasce do sepulcro vazio do Senhor. Uma Santa e Feliz Páscoa! |
SUGESTÃO DE CÂNTICOS |
Entrada: Ó Páscoa Gloriosa, F. Santos, NCT 175; Hoje é dia de festa (C. Silva) – OC 135; Este é o dia que o Senhor nos fez (M. Luís) – NCT 539; O Senhor ressuscitou verdadeiramente (A. Cartageno) – CEC I 138; Ressuscitei e eis-me para sempre contigo (J. Martins) – CEC I 137; Sequência: Victimae paschali, c. greg., NCT 202; Ofertório: Ó Páscoa gloriosa (F. Santos) – NCT 176; Nasceu o sol da Páscoa (M. Luís) – NCT 537; Comunhão: Sempre que comemos o pão, F. Santos, NCT 198; O Senhor ressuscitou verdadeiramente (A. Cartageno) – CEC I 138; Cristo, nosso Cordeiro Pascal (M. Simões) – NCT 167; As bodas do Cordeiro (M. Luís) – CAC 259; Final: Rainha dos Céus, alegrai-vos (F. Silva) – IC 331; Na sua dor (A. Cartageno) – NCT 200; Regina Caeli (Gregoriano) – NCT 205. |
LEITURA ESPIRITUAL |
O primeiro dia da vida nova
Eis uma máxima de grande sabedoria: «No dia da felicidade, esquecemos todos os males» (Sir 11,25). Hoje foi esquecida a sentença lançada sobre nós; melhor, não foi esquecida, foi anulada! Este dia apagou qualquer lembrança da nossa condenação. Outrora, o parto ocorria com dor; agora, o nascimento é sem sofrimento. Outrora, éramos apenas carne, nascíamos da carne; hoje, o que nasce é espírito, nascido do Espírito. Ontem, nascíamos simples filhos de homens; hoje, nascemos filhos de Deus. Ontem, éramos os rejeitados dos Céus na Terra; hoje, Aquele que reina nos Céus faz de nós cidadãos do Céu. Ontem, a morte reinava por causa do pecado; hoje, graças à Vida, é a justiça quem toma o poder.
Outrora, um único homem abriu-nos as portas da morte; hoje, um único homem traz-nos de novo à vida. Ontem, perdemos a vida por causa da morte; mas hoje a Vida destruiu a morte. Ontem, a vergonha fazia-nos esconder debaixo da figueira; hoje, a glória atrai-nos para a árvore de vida. Ontem, a desobediência expulsou-nos do Paraíso; hoje, a fé permite-nos entrar nele. De novo nos é oferecido o fruto da vida, para que o saboreemos como quisermos.
De novo a nascente do Paraíso, cuja água nos irriga pelos quatro rios dos evangelhos (cf Gn 2,10), vem refrescar o rosto da Igreja. Que fazer agora senão imitar, em seus saltos jubilosos, as montanhas e as colinas da profecia: «Montanhas, saltai como carneiros; e vós, colinas, como cordeiros!» (Sl 113,4).
Vinde, cantemos de alegria no Senhor! (cf Sl 94,1). Ele quebrou o poder do inimigo e ergueu o grande troféu da cruz. Digamos, pois: «Grande é o Senhor, nosso Deus, Ele é o grande rei em toda a Terra!» (cf Sl 94,3; 46,3). Ele abençoa o ano coroando-o com os seus benefícios (cf Sl 64,12) e congrega-nos em coro espiritual, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém! (São Gregório de Nisa, c. 335-395, monge, bispo, Homilia para a santa e salutar Páscoa) |
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