A SALVAÇÃO ACOLHE-SE
Na viagem para Jerusalém, o evangelho de Marcos narra-nos o encontro de Jesus com um jovem inquieto. A questão sobre o que é mais importante na vida não é nova. Para o rei Salomão, a sabedoria tem o lugar de primazia acima de todos os bens (1ª leitura). Esta sabedoria encontra-se escondida na Palavra de Deus (2ª leitura) e nas palavras de Jesus que indicam o exigente caminho que conduz à vida eterna (evangelho). Somente Ele pode saciar-nos com a sua bondade e tornar prósperas as obras das nossas mãos (salmo). Falar de riqueza, de pobreza, de dinheiro, é sempre muito delicado. Tendo em conta a Palavra de Deus deste domingo, podemos afirmar que a proposta de Deus de participar do seu Reino supõe exigências radicais, mas a fé assegura-nos que Jesus, Sabedoria de Deus, deve ter a primazia, acima de tudo e de todos. A primeira leitura diz o seguinte: “Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria”. A sabedoria é melhor que a riqueza, a saúde e a beleza. Com a sabedoria, é-nos dado todos os bens. O salmo reforça esta ideia, afirmando: “Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade, para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias”. E a segunda leitura diz-nos que “a palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes”. É ela que julgará as nossas vidas. O texto evangélico apresenta-nos um jovem inquieto que vai ao encontro de Jesus. É de louvar a sua fidelidade aos mandamentos de Deus. Mas a sua riqueza é um obstáculo quando chega o momento de escolher o melhor para si. Com as palavras finais de Jesus a Pedro, conclui-se que a pobreza não é um fim em si mesma; mas é uma forma de nos libertarmos para seguirmos Jesus. O homem rico, que pede conselhos a Jesus sobre como alcançar a vida eterna, não dá conta de que tem diante dele alguém que é mais do que um rabino, do que um sábio conhecedor da Lei. Está a conversar com aquele que o pode conduzir à vida eterna. Recordemos que Jesus está a caminhar para Jerusalém, para a missão confiada pelo Pai, a de salvar a humanidade com a sua morte e ressurreição. Perante este mistério, as riquezas deste mundo não têm qualquer valor, não são de grande utilidade. Jesus conhece a sinceridade deste homem que, verdadeiramente, procura a Deus e que aspira às grandes coisas. É um homem reto e religioso; “Jesus olhou para ele com simpatia”. E atreve-se a fazer-lhe a mesma proposta que fez aos seus discípulos: abandonar tudo. Era o que faltava para ser feliz. Mas, “ouvindo estas palavras, retirou-se pesaroso, porque era muito rico”. Senhor, “ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração”. É Deus que nos ensina a viver, a não perder tempo. Pensemos no tempo que já vivemos. Tantas boas recordações, de pessoas e de momentos, tantas canseiras e sofrimentos! Mas apesar de tudo, estamos aqui; com esses momentos, ganhámos sabedoria e maturidade. Não tenhamos medo de incluir, também, os nosso pecados e erros, pois com eles também aprendemos. Pensemos em toda a nossa vida e digamos com o salmo: “compensai em alegria os dias de aflição, os anos em que sentimos a desgraça”. Esta é a alegria de saber que, apesar de tudo, Deus nunca nos abandonou. Apesar dos tempos difíceis e dolorosos que atravessamos, mesmo dentro da Igreja, a nossa missão é dizer que Deus está connosco. Não importa ser rico ou pobre; a beleza, o dinheiro e a saúde não duram sempre, mas Deus está na nossa vida: silencioso, mas sempre presente. Vivamos os mandamentos de Deus, façamos o bem que pudermos. Assim seremos felizes. E se o peso dos nossos pecados nos faz duvidar do amor de Deus, não esqueçamos: mesmo que não te perdoes, Ele perdoa-te, porque para Ele nada é impossível. A salvação não se ganha, mas acolhe-se. |