O
Papa João Paulo II, na Carta Apostólica “Novo Millenio
Ineunte” reconhecia que, desde o Concílio Vaticano II,
muito se progrediu na revalorização da Palavra de Deus
na vida da Igreja e na piedade dos fiéis e das comunidades cristãs
(nn.39-40). Importa dar seguimento e incrementar este movimento renovador
e, sobretudo, conseguir que «a escuta da Palavra se torne um encontro
vital, segundo a antiga e sempre válida tradição
da lectio divina: esta permite ler o texto bíblico
como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência»
(n. 39). Pensamos que as equipas de liturgia e outros grupos litúrgicos
deverão fazer seu este objectivo. Para tal, deixamos aqui algumas
sugestões:
1. As reuniões (se possível semanais)
das equipas de Liturgia devem decorrer em clima de oração.
Não se trata apenas de fazer uma oração expressa
(por ex.: de alguma Hora do Ofício Divino) em algum momento do
encontro. Importa que todo o grupo tome consciência de que se
reúne na presença do Senhor e para o
ouvir. Muito mais do que uma assembleia de estudo, reflexão,
programação e revisão!
2. Aberta a reunião, procede-se a uma primeira
leitura dos textos, tal como estão, e pela ordem do
Leccionário: 1ª leitura, Salmo Responsorial, 2ª leitura, Aclamação
ao Evangelho, Evangelho e Antífona de Comunhão.
3. Em seguida procede-se à releitura dos textos,
mas desta vez começando pelo Evangelho com a respectiva aclamação,
seguida da primeira leitura, Salmo e 2ª leitura. De facto, a organização
do Leccionário costuma arrancar do Evangelho e a partir daí
fazer a selecção da leitura do AT, fornecendo-nos assim
uma chave de escuta e compreensão que importa descobrir.
4. Em seguida, o grupo vai concentrar a sua atenção
no trecho evangélico: situá-lo no contexto
do Evangelista e na sequência da Liturgia (pode ser útil
rever brevemente o texto lido e celebrado no domingo anterior e antecipar
o seguinte); relê-se então de novo o Evangelho procurando
escutá-lo também com a vontade e o coração;
os participantes procurem situar-se dentro do episódio proposto,
olhando e escutando Jesus lado a lado com os ouvintes e discípulos
da primeira hora, se possível imaginando e reconstituindo as
circunstâncias do tempo e do lugar; importa reviver o acontecimento
sentindo como próprias as dúvidas e interrogações
dos discípulos e do povo e escutando como dirigidas a si as interpelações
e palavras do Mestre; sublinhem-se as acções mediante
os verbos, os sujeitos que as realizam, a mensagem, a recusa ou o acolhimento.
5. Explicar a Palavra com a Palavra,
porventura chamando à memória outros textos paralelos
ou aludidos, e confrontando-os. Para completar este processo, passa-se
à primeira leitura escutando-a como «profecia»
e anúncio do acontecimento proclamado e celebrado no Evangelho.
Trabalhe-se a 1ª Leitura como no ponto anterior se sugeriu para o Evangelho,
aproveitando para conhecer o autor e o livro. Situado o texto no contexto,
faz-se em seguida a sua aproximação ao Evangelho de que
é anúncio.
6. Após a análise do Evangelho e da 1ª
leitura, rezar o Salmo Responsorial numa recitação
ou canto e escuta repousada.
7. Trabalhar em seguida a 2ª leitura,
do «Apóstolo», que partilha connosco a experiência
e compreensão do mistério de Jesus morto e ressuscitado
da comunidade primitiva, que é modelo do nosso próprio
crer e rezar. Frequentemente, esta leitura completa de forma superior
a apresentação do mistério do dia. Que isto se
faça respeitando o texto, sem acomodações forçadas
e despropositadas.
8. Ligar a Palavra ao Sacramento: a Palavra torna-se Alimento. Alimentados
pela escuta e pela participação sacramental tornamo-nos
Corpo do Senhor, cimentados na comunhão de vida do Espírito
Santo dado e comungado de um duplo modo numa mesa única.
8.
Ligar a Palavra ao Sacramento: a Palavra torna-se Alimento.
Alimentados pela escuta e pela participação sacramental
tornamo-nos Corpo do Senhor, cimentados na comunhão de vida do
Espírito Santo dado e comungado de um duplo modo numa mesa única.
N.B.: Este itinerário deve ser percorrido por
todos: leitores, acólitos, animadores do canto e da assembleia,
presidente, etc. Só depois se é «competente»
para escolher e ensaiar os cânticos, preparar tecnicamente as
leituras, redigir monições e intenções da
oração dos fiéis, fazer a homilia. Utópico?
Façam o favor de experimentar, porque vale a pena.
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