OS DONS DO RESSUSCITADO: PAZ, ESPÍRITO E PERDÃO
Enquanto que, no domingo passado, nos concentrávamos na celebração do anúncio da ressurreição de Jesus, neste domingo, na Oitava da Páscoa, a nossa atenção orienta-se para o mistério desta ressurreição. Não ficamos somente no facto de que, em cada oito dias, nos reunimos para celebrar a Ressurreição do Senhor, mas também nos seus efeitos, tanto naquele dia de Páscoa, como na oitava, e, também, hoje. Jesus mostrou aos apóstolos as mãos e o lado, como, depois, também mostrou a Tomé, porque este não acreditou no testemunho dos seus companheiros. Mas, o evangelho deste domingo também nos apresenta o mistério, o qual não podiam ver nem tocar, mas somente experimentar: a paz que Jesus ressuscitado concede à sua Igreja, o Espírito Santo que oferece como fruto da sua ressurreição, e o perdão dos pecados para alcançar a salvação que a ressurreição de Jesus nos dá. Como Tomé, muitas pessoas, hoje, também procuram certezas e provas, querem ver e tocar. Mas o Senhor, além de mostrar, as mãos e o lado, dá-lhes, a ele e a todos, uma vida que não podem ver, mas que podem sentir. Em primeiro lugar, a paz, aquela paz que, noutra passagem do evangelho, Jesus diz: “Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou” (Jo 14,27). Uma paz que inunda plenamente cada pessoa, porque não é somente ausência de guerra, mas edifica um coração pacífico, vivendo a bem-aventurança: “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). O Ressuscitado também concede o Espírito, o Espírito da verdade e da fortaleza, que fará dos apóstolos, e de quantos partilhamos a mesma fé, homens novos num mundo enfraquecido, homens novos pelo batismo que a todos converte numa criatura renovada. E, ainda, nos oferece o perdão dos pecados. Jesus concede à Igreja a capacidade e o dom de perdoar, de nos sentirmos perdoados e de partilhar o perdão que Deus concede, pela sua grande misericórdia. Os discípulos, e Tomé passados oito dias, viram as chagas do Senhor e acreditaram, mas não viram com os seus olhos, não tocaram com as suas mãos os dons do Ressuscitado; acreditaram e a sua fé espalhou-se como a sombra de Pedro, o primeiro dos apóstolos, que, como nos diz a primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, confortava e curava “os enfermos e atormentados por espíritos impuros”. Se no domingo passado, eramos convidados a “tomar” a palavra, como Pedro, para anunciar a ressurreição de Jesus, neste domingo, tanto a segunda leitura do Apocalipse com a parte final do texto evangélico, convida-nos a “escrever” o que vimos e ouvimos, o que experimentámos, para que, também hoje, acreditemos no Ressuscitado e, mesmo não vendo as feridas das mãos e do lado, acreditemos que o Senhor dá-nos a sua paz, derrama sobre nós o seu Espírito e concede-nos o perdão, para que sejamos instrumentos de reconciliação para a sociedade em que vivemos. Neste domingo, recordamos a dúvida do apóstolo Tomé, mas o mais importante é contemplar o Senhor ressuscitado que, tomando a iniciativa, vai ao encontro dos seus amigos e concede-lhes toda a força e a vida da ressurreição, para que dela sejam testemunhas. Hoje, repete-se o que aconteceu “há oito dias”, ou seja, em cada domingo, a Igreja é convocada para celebrar o Senhor ressuscitado. De oito em oito dias, repetem-se os dons do Senhor, que está presente na Igreja, para que cada geração experimente e viva os dons que o Ressuscitado nos concede: a paz que edifica, o Espírito que estimula e o perdão dos pecados que salva e nos convida a renascer de novo. |