PROCURAR JESUS EM FAMÍLIA No domingo a seguir à Solenidade do Natal do Senhor, somos sempre convidados a contemplar Jesus, Maria e José, como a sagrada família de Nazaré. Diante de nós, é apresentado um relato teológico, narrado por São Lucas, que é mais do que uma verdade histórica. No evangelho, encontramos uma verdade salvífica que, certamente, pode iluminar a nossa vida familiar na atualidade da Igreja. Naquele tempo, a tradição judaica determinava três peregrinações anuais à cidade santa, o que, para muitos, que viviam muito longe, era muito difícil cumprir. Por isso, era normal para uma família judaica daquele tempo subir, ao menos uma vez por ano, a Jerusalém para celebrar as festas pascais. O texto diz-nos que Jesus tinha doze anos. A idade não é um pormenor narrativo, porque a obrigação de peregrinar a Jerusalém começava aos treze anos. Assim, Lucas salienta que os pais do Menino eram cumpridores e que O estavam a educar nas tradições judaicas. A sagrada família de Nazaré era uma família de fé, crente e cumpridora. Este é o contexto que Deus quis para o seu Filho. E este é o convite feito, hoje, às nossas famílias. Para qualquer sociedade, secularizada ou não, a Igreja sabe como é importante cuidar do seu núcleo fundamental. Mas, como? Maria e José dão-nos a resposta. Fé e vida caminham de mãos dadas, ou seja, não basta sermos crentes, mas também credíveis; fazer uma vida em conformidade com a vontade de Deus. Não se é cristão “à la carte”, “à minha maneira”; só se é cristão à maneira do evangelho. Esta linha de pensamento encontramos no primeiro livro de Samuel. Ana, desejando agradecer a Deus, manifesta-se crente e credível. Por isso, levou o seu filho, Samuel, ao templo para que o sacerdote Eli o consagrasse a Deus. Também São João, na sua primeira carta, diz-nos: “É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou”. Esta é a condição normal de um cristão que decidiu não só acreditar, mas também viver a fé: acreditar e amar. E isto, em primeiro lugar, deve brotar do seu seio familiar. O texto evangélico fala-nos de duas perturbações distintas. Os doutores da Lei estavam “surpreendidos” com a inteligência e as respostas de Jesus. Mas é uma perturbação negativa, ou seja, estavam incomodados; por isso, faziam perguntas ao jovem Jesus. O Antigo Testamento analisado à luz de Cristo desconcertava os escribas. Por outro lado, os pais, José e Maria, estavam também aflitos com a perda do Menino. Não compreenderam, totalmente, a resposta de Jesus, mas tudo aceitavam, conservando tudo nos seus corações. Hoje, somos convidados a surpreendermo-nos com a novidade de Deus. E cada pessoa é um dom para os outros. Nela repousa a novidade de um filho ou de uma filha de Deus, o qual, compreendido à luz de Cristo, será sempre um motivo de surpresa e de alegria evangélica. Por isso, procuremos evitar a rigidez, as intrigas pessoais ou a norma do “tem de ser assim” que tanto prejudica as relações humanas. Em cada um, está a boa nova de Deus. “Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura”. Procurar Jesus! Esta é a missão da família. Juntos, sem imposições, mas em liberdade, que cada um possa procurar Jesus. E esta procura deve ser feita sem opressão. José e Maria estavam aflitos, porque procuravam Jesus, segundo os seus critérios humanos. E Jesus procedia segundo os critérios de Deus Pai. Que em cada família cristã haja o clima para que cada membro possa ser estimulado na sua procura de Jesus. Que seja o lugar onde não se “é” por imposição, mas segundo os critérios divinos, na liberdade dos filhos de Deus. Procurar Jesus, em família, é permitir que Deus Pai se revele e modele cada membro, ajudando-o a alcançar a sua plena realização humana. |