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XXV Domingo  do Tempo Comum Ano C

UM ADMINISTRADOR SERVO DE DEUS E NÃO DO DINHEIRO

Lucas, que é o evangelista que mais destaca o amor de Deus pelos pobres, oferece-nos diversos pontos de reflexão sobre os perigos de um amor excessivo ao dinheiro, aos bens materiais e a tudo aquilo que impede de viver em plenitude a nossa vocação de amar a Deus e aos irmãos. Na primeira leitura, o profeta Amós condena a ânsia daqueles que não hesitam em utilizar meios fraudulentos para aumentar os seus lucros. Dirige-se aos comerciantes que, levados pela avareza, faziam do dinheiro o seu deus, iludidos pelos seus negócios, apesar de cumprirem todas as leis religiosas. No evangelho, escutamos uma parábola de Jesus que, de certa forma, produz em nós alguma estranheza, porque fala de um administrador injusto que acaba por ser elogiado. Ele está na iminência de ser despedido devido à má gestão que faz dos negócios do seu senhor e, para garantir o seu futuro, trata, com esperteza, de negociar com os devedores do seu senhor. É evidente que a parábola não nos apresenta este administrador como um modelo a seguir, mas pretende dizer-nos que, se existem pessoas que têm a arte e a esperteza para obter, seja como for, benefícios materiais, que são falsos, também deveríamos preocupar-nos em obter os benefícios que são verdadeiros e que duram eternamente. Trata-se daquilo que ambicionamos, do que nos é mais importante. E isto reflete-se na nossa vida, nas nossas decisões de cada dia. Com frequência, temos de tomar uma posição entre o amor e o egoísmo, entre o que é justo e o que é injusto. Quando se trata dos bens materiais, podemos procurar obter o máximo benefício de alguma coisa, ou pensar também nos outros, renunciando, se for necessário, ao que poderíamos obter ou à parte que nos corresponde. É necessário, pois, uma certa conversão na nossa relação com o dinheiro, que nos pode escravizar, se lhe entregarmos totalmente o nosso coração. Poderá dominar-nos e convertermo-nos em seus escravos. Tantas vezes se começa por querer um pouco mais e, depois, converte-se num desejo insaciável, em desejar sempre mais. Os bens materiais são, também, meios através dos quais cada um de nós pode viver o que diz a Sagrada Escritura: há mais felicidade em dar do que em receber. Recordemos aquela pergunta da carta de São João: “Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele”? (1Jo 3,17). Com efeito, cada vez que partilhamos alguma coisa com amor, muito ou pouco, sentimos uma paz, uma satisfação interior, uma alegria. São Paulo diz-nos que Jesus, “sendo rico, se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). Parece uma contradição: Cristo não nos enriqueceu com a sua riqueza, mas com a sua pobreza, ou seja, com o seu amor, através do qual se entregou por nós, até dar a vida por este amor. Somos convidados a imitar Jesus nesta forma de pobreza que vai além dos bens materiais, porque engloba toda a nossa vida: a nossa relação com o dinheiro, com as pessoas, com a vida. Esta é a semente do Reino que cada um tem de ir semeando com o testemunho. Somos capazes de viver esta pobreza? Somos capazes de renunciar ao desejo de dominar, de manipular os outros para alcançar os nossos objetivos? Somos capazes de ser misericordiosos e perdoar, ainda que nos sintamos ofendidos, renunciando a viver com rancor? Somos capazes de renunciar ao orgulho de querer sempre ter razão diante dos outros? Por vezes, queremos, também, dominar a vida, ter tudo controlado, que tudo seja como nós queremos. Isto afeta a forma como vivemos as contrariedades da vida que, ainda que sejam situações dolorosas, podem ser um bem espiritual se nos ajudarem a descobrir, em Deus, a grande riqueza que nada nem ninguém nos poderá tirar e o alicerce da nossa vida. Não pretendamos ser ricos de coisas que, mais cedo ou mais tarde, acabam por se perder e que nos fazem perder pelos caminhos do egoísmo e da injustiça. Procuremos ser ricos daquilo que dura para sempre e que é salutar a nós e aos que nos rodeiam, daquilo que torna a nossa vida mais plena e mais feliz.

Sugestão de Cânticos
Entrada: Deus vive na Sua morada santa, F. Santos, NCT 217; Servi o Senhor com alegria, B. Sousa, NCT 228; Eu darei ao meu povo a salvação (A. Cartageno) – CEC II 119; Aclam. ao Ev.: Nenhum servo, adapt. NCT 239; Apresentação dos Dons: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro (C. Silva) – LHC 206; A vós, Deus e Senhor (D. Julien) – NCT 242; Comunhão: O Senhor é meu pastor, F. Santos, NCT 268; Felizes os convidados, M. Luís, NCT 264; Buscai o alimento (M. Luís) – NCT 269; Final: Os ricos empobrecem (C. Silva) – CEC II 127; Bendito seja Deus, bendito seja (M. Simões) – NCT 282. .
Leitura Espiritual
«Quem é fiel nas coisas pequenas, também é fiel nas grandes»

Tens de saber de onde te vem a existência, o sopro de vida, a inteligência e aquilo que há de mais precioso, o conhecimento de Deus, de onde te vem a esperança do Reino dos Céus e de contemplares a glória que hoje vês de maneira obscura, como num espelho, mas que verás amanhã em toda a sua pureza e todo o seu brilho (cf 1Cor 13, 12). De onde te vem o facto de seres filho de Deus, herdeiro com Cristo (cf Rm 8, 16-17) e, se ouso dizê-lo assim, de seres tu próprio um deus? De onde te vem tudo isto e através de quem? Ou ainda, falando de coisas menos importantes, as que se veem: quem te deu a beleza do céu, o curso do sol, o ciclo da lua, as incontáveis estrelas, com a harmonia e a ordem que as regem? Quem te deu a chuva, a agricultura, os alimentos, as artes, as leis, a cidade, uma vida civilizada, relações familiares com os teus semelhantes? Não foi Aquele que, antes de mais e em paga de todas as suas dádivas, te pede que ames os homens? Se Ele, o nosso Deus e nosso Senhor, não Se envergonha de ser chamado nosso Pai, poderemos nós renegar os nossos irmãos? Não, meus irmãos e meus amigos, não sejamos administradores infiéis dos bens que nos são confiados. (São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja, Homilia 14, sobre o amor dos pobres, 23-25; PG 35,887)

Chefe de redação: Cónego Jorge Seixas Contacto
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