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I Domingo do Advento | Ano A | 30-novembro

O ADVENTO É A ESPERANÇA DA IGREJA PELO SENHOR DA HISTÓRIA 

Por vezes, no tempo do Natal, somos confrontados com pessoas que nos dizem: “Que estes dias de Natal acabem, o mais rápido possível”. E dizem-nos que os dias de Natal os deixam tristes. O profeta Isaías fala-nos de lanças e espadas de nações que fazem a guerra; São Paulo refere-se às obras das trevas e Jesus fala-nos do dilúvio que dizimou a terra no tempo de Noé. Assim, a palavra de Deus menciona os males da história da humanidade, que todos os dias ouvimos nas notícias. Neste domingo iniciamos a preparação de uma festa encantadora como o Natal. Mas, porque é que os textos nos lembram tudo o que é negativo no mundo? O nascimento de Jesus não é motivo de alegria? Que necessidade há de recordarmos todos os males do mundo? É evidente que o Natal é uma festa cheia de afecto e generosidade, mas celebrá-lo fazendo-o uma espécie de parêntesis da realidade obscura que existe no mundo é inadmissível. Por isso, é compreensível que haja pessoas que se revoltam contra o Natal, dizendo que são dias tristes. Estas pessoas não rejeitam o Natal, mas uma perspetiva que apresenta o Natal como se fosse um conto de fadas. Uma história que enquanto dura nos obriga a entrar numa realidade virtual “açucarada”, cheia de bons sentimentos e felicitações; e depois voltaremos à dura realidade. A Palavra de Deus quer que tomemos consciência do mal humano. Quer que entendamos que sozinhos não vamos ter sucesso, que aquele que confia somente nas suas próprias forças está perdido. Tudo isto está representado no dilúvio que Jesus lembra aos seus discípulos. Deus tinha um plano para a humanidade, mas o homem, rejeitando a orientação amorosa de Deus, a sua dependência do Criador, perdeu-se. Neste sentido, o dilúvio não é tanto a ira de Deus, que se arrepende de ter criado a humanidade e a faz recomeçar de novo, mas sim o facto de o sonho de Deus ter fracassado por causa da humanidade, que quis viver a sua liberdade sem qualquer ligação com a verdade e com a bondade. Portanto, praticamente tudo estava perdido antes do dilúvio e a água simplesmente limpou o que já estava perdido. A vinda do Senhor é um anúncio de alegria, porque o Senhor quer vir para nos estender as suas mãos e salvar-nos do mal em que nos afundamos. Jesus vem para nos libertar, para nos salvar das trevas do pecado. É um convite para confiar nele mais do que em nós próprios. Trata-se de fazer nossa a referência das Escrituras que nos dizem que sozinhos não temos futuro, isto é, que não saímos do pecado sozinhos. Isto supõe um estado de vigilância que nos faz estar atentos. Talvez estejamos muito mais atentos às ofertas da Black Friday, comparando os preços! Quem dera que tivéssemos a mesma coragem de descobrir as mentiras que mascaram a nossa realidade pessoal, familiar e social, as nossas fragilidades. Só assim poderemos clamar como a liturgia do Tempo do Advento: Vem, Senhor Jesus! O advento é o tempo de esperança perante a tentação de pensar que já não há solução para mim, que estou perdido. A esperança cristã diz-me: “Tens um remédio”, e esse remédio é Jesus que quer entrar na tua vida. A questão é se quero recebê-lo. As palavras de Jesus: “estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem”, não são uma ameaça, mas um convite a aceitar esta oferta de salvação que não estará permanentemente ao nosso alcance. Deus promete-nos a sua ajuda; portanto, não nos demoremos a decidir. O Advento, portanto, é a expectativa de cada pessoa batizada e de toda a Igreja pelo Senhor da História. Jesus, que se tornou visível pela primeira vez na fragilidade da carne quando nasceu em Belém, virá uma segunda vez, em glória e majestade, no final dos tempos. Mas, todos os dias vem até nós através da Igreja que nos oferece a sua presença salvadora na Palavra e nos sacramentos. “Agora Ele vem ao nosso encontro, em cada homem e em cada tempo, para que O recebamos na fé e na caridade”. Como me preparo para isto? Reconheço que o mal também encontra cumplicidade no meu coração? Clamamos ao Senhor pela sua vinda? A certeza de que ele quer vir ter comigo, com a Igreja, com o mundo enche-me de alegria?

Sugestão de Cânticos
Entrada: O Senhor vem, M. Luís, NCT 25; No fim dos tempos (J. Pedro) – CEC I 36; Maranatha! Vinde, Senhor Jesus (M. Luís) – CAC 40; Ofertório: Sabedoria infinita, F. Santos, NCT 446; Povo de Deus, M. Luís, NCT 40; Rorate coeli, NCT 59; Vinde, Vinde, Senhor Jesus (B. Sousa) – CEC I 33; Ó Sol nascente (M. Luís) – NCT 566; Comunhão: Maranatha, aleluia, F. Santos, NCT 44; Quem come deste pão, M. Luís, 46; Final: Descei, Senhor Jesus, M. Luís, NCT 52; Vinde, vinde, não tardeis, M. Luís, 51; Estai preparados (F. Santos) – CEC I 11; Senhor, descei (M. Luís) – CEC I 33; Final: Excelso Criador dos grandes astros (M. Luís) – CEC I 39; Vinde, Vinde não tardeis (M. Luís) – CEC I 34; Ordinário da Missa: NCT 54, 55, 56 e 57; Aclamação de Anamnese: Quando comemos deste pão, Missal Romano, p. 675.
Leitura Espiritual
«Na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem» 

Na verdade, meus irmãos, é com o espírito exultante que devemos ir ao encontro de Cristo que vem. Que o nosso espírito se eleve, pois, num transporte de alegria, e avance ao encontro do seu Salvador. Penso, com efeito, que somos convidados em muitas passagens da Escritura a ir ao seu encontro, não apenas a propósito da sua segunda vinda, mas também a propósito da primeira. Assim, pois, que o Senhor venha a nós mesmo antes da sua vinda; que, antes de aparecer ao mundo, venha visitar-nos pessoalmente, pois Ele mesmo disse: «Não vos deixarei órfãos, mas virei a vós» (Jo 14,18). Pois, no período entre a primeira e a segunda vinda, há uma vinda do Senhor que é frequente e familiar, segundo o mérito e o fervor de cada um, que nos forma segundo a primeira e nos prepara para a última. Pela sua vinda atual, Ele opera a reforma do nosso orgulho, para nos tornar semelhantes a essa humildade de que deu mostras na sua primeira vinda, e para «transformar o nosso corpo miserável à imagem do seu corpo glorioso» (Fil 3,21), que há de mostrar-nos quando vier. É por isso que temos de desejar com todas as forças e de pedir com fervor esta vinda familiar, que nos dá a graça da primeira vinda e nos promete a glória da última. A primeira vinda foi humilde e escondida, a última será resplandecente e admirável. Aquela a que me refiro é escondida, mas é igualmente admirável. Digo que é escondida, não porque seja ignorada por aquele a quem acontece, mas porque advém em segredo nele. Ela vem sem ser vista e afasta-se sem ser apercebida. A sua mera presença é luz para a alma e o espírito, uma luz que permite ver o invisível e conhecer o incognoscível. Esta vinda do Senhor põe a alma daquele que a contempla numa doce e feliz admiração. Então, do mais fundo do homem, brota este grito: «Senhor, quem pode comparar-se a Ti?» (Sl 34,10). Quem a conheceu sabe que assim é. Praza a Deus que aqueles que não a conheceram tenham desejo de a conhecer! (Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense, 2º Sermão para o Advento)

Redação: Pe. Jorge Seixas liturgia@diocesedeviseu.pt
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