Secretariado Diocesano da Pastoral Litúrgica de Viseu
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Domingo 17º do Tempo Comum Ano C

A CARIDADE LEVA À COMUNHÃO: DAR, DEIXAR-SE ENCONTRAR E ACOLHIMENTO 

Na missa de aniversário da Dedicação de uma Igreja, encontramos uma antífona de comunhão que diz: “A minha casa é casa de oração, diz o Senhor; nela quem pede, recebe; quem procura, encontra; a quem bater à porta, abrir-se-á” (MR p. 1066). Esta antífona coloca diante de nós a realidade da Igreja: Corpo de Cristo. E como qualquer corpo de uma pessoa é a manifestação dessa mesma pessoa; a Igreja é a manifestação de Cristo no mundo. Portanto, somos convidados também a encarnar, pessoalmente e como Igreja, as virtudes desta afirmação do Senhor: acolhimento, deixar-se encontrar e doação. Afirmar que a Igreja é Corpo de Cristo passa por esta dinâmica. Não é possível que o corpo pense, sinta ou atue de maneira diferente da cabeça. Por isso, São Paulo afirma aos cristãos de Filipos: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo”. Todos temos de trabalhar para nos darmos mais aos outros e dar-lhes o que necessitam; para que, tanto a Igreja como cada um de nós; seja ponto de encontro e não de desavença; para que sejamos mais acolhedores, pessoal e comunitariamente. Todos já desejámos coisas que não nos convêm, desconhecendo o que nos faz bem. Acontece, habitualmente, com as crianças que não têm suficiente maturidade e critério para poder discernir. Como Igreja, devemos pensar: damos às pessoas que se aproximam o que pedem, damos o que querem ou, pelo contrário, procuramos dar o que lhes convém? O que acontece quando estas duas situações não coincidem? Acabamos a dar um peixe ou uma serpente? Deus chama-nos a fazer como Ele; portanto, a encarnar os sentimentos de Cristo, completamente fiel à vontade do Pai. E tudo isto imbuído do amor de Deus que, tantas vezes, se manifesta como misericórdia. Na primeira leitura, Deus fala cara-a-cara com Abraão e este procura regatear, revelando a vontade de Deus, que é de salvar as cidades de Sodoma e Gomorra, ainda que só existam dez justos. É como se Deus nos dissesse: qualquer desculpa que me derdes é boa para vos salvar e, assim, poderei demonstrar o meu amor. Assim, se o ponto de referência tem de ser sempre Deus, e ter um coração semelhante ao do Pai misericordioso, temos de estar aberto a Ele e fazer nossos os seus critérios, deixando de lado os nossos, tão profundamente viciados. Dar, deixar-se encontrar e o acolhimento são três aspetos de uma mesma realidade: a caridade que nos leva à comunhão. É por isso que na Dedicação de uma igreja se unia o templo, onde se celebram a Eucaristia e a caridade, expressa nos três verbos acima referidos. Não podemos separar a Eucaristia da caridade, porque a mesa da Eucaristia e a mesa dos pobres são inseparáveis. É assim, porque a Eucaristia é a fonte donde brota a nossa caridade, que fará com que saiamos ao encontro dos outros, que construamos comunhão e nos dêmos. Não é em vão que, na Eucaristia, antes de comungar, se reze a oração do Senhor que encontramos no texto evangélico deste domingo. Aqueles que participam no Corpo de Senhor, são convidados a ser um só Corpo. Os que comemos um só pão, somos filhos do mesmo Pai, que atua como um Pai bom, dando pão e peixes, em vez de serpentes e de escorpiões. Temos de sentir Deus naquele que se senta ao nosso lado. Tudo isto tem uma especial relevância ao domingo, dia em que celebramos a vitória de Cristo sobre o mal e o pecado, que também é a nossa vitória, porque graças ao mistério pascal de Cristo, temos acesso ao Pai e nós somos filhos, no Filho. A comunidade que se reúne para celebrar o domingo é também um sinal visível dos frutos do mistério Pascal: nesta igreja onde nos reunimos “quem pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate à porta, abrir-se-á” nesta igreja, porque Cristo está no meio de nós, convocou-nos para a sua casa de oração e de caridade.

Sugestão de Cânticos
Entrada: Deus vive na sua morada santa, F. Santos, NCT 217; Nós vamos até Vós, A. Mendes, NCT 223; Vinde à presença de Deus (M. Carneiro – CEC II 85; Aclam. ao Ev.: Recebestes o espírito, adapt. NCT 239; Apresentação dos Dons: Tomai e recebei (H. Faria) – CT 88; Acumulai tesouros no céu (C. Silva) – LHC 213; Comunhão: A minha alma louva o Senhor, F. Santos, NCT 254; Felizes os convidados, M. Luís, NCT 264; Pedi e receberás (Az. Oliveira) – CEC II 87; Final: Vós, Senhor, sois o nosso Pai (C. Silva) – OC 278; Louvado seja o meu Senhor (J. Santos) – IC 465.
Leitura Espiritual

«Batei à porta e abrir-se-vos-á» 

Nosso Senhor fez-me uma revelação sobre a oração, e vi que ela assenta em duas condições: a retidão e uma confiança firme. Muitas vezes, a nossa confiança não é total. Não temos a certeza de que Deus nos escuta, pois achamos que somos indignos e além disso não sentimos nada. Muitas vezes, sentimo-nos tão secos e estéreis depois de rezarmos como nos sentíamos antes. A nossa fraqueza vem desta consciência de sermos tontos que eu própria já experimentei. Nosso Senhor apresentou-me tudo isso de repente ao espírito e disse-me: «Eu sou a origem da tua súplica. Sou Eu que quero dar-te esse dom e faço com que tu o queiras: incito-te a pedir e tu pedes; como é possível, pois, que não obtenhas o que pedes?». Deste modo, Nosso Senhor deu-me grande conforto. Quando me disse: «e tu pedes», mostrou-me a satisfação que Lhe dão as nossas súplicas e a recompensa infinita que nos dará pela nossa oração. Quando declarou: «como é possível que não obtenhas o que me pedes?», é como se fosse uma impossibilidade não recebermos a graça e a misericórdia quando a pedimos. Com efeito, Nosso Senhor já encomendou para nós eternamente tudo aquilo que nos leva a pedir. Por aqui podemos ver que a causa da bondade que Ele tem por nós não é a nossa súplica: «Eu sou a origem da tua súplica». A oração é um ato deliberado, verdadeiro e perseverante da nossa alma, que se une e se liga à vontade de Nosso Senhor por obra suave e secreta do Espírito Santo. Parece-me que Nosso Senhor recebe pessoalmente a nossa oração e, tomando-a com grande reconhecimento e alegria, leva-a para o Céu e deposita-a num tesouro onde ela jamais perecerá. Ela aí fica, em face de Deus e de todos os santos, continuamente recebida, a ajudar-nos continuamente nas nossas necessidades. E, quando entrarmos na bem-aventurança, ser-nos-á devolvida, contribuindo para a nossa alegria, com um agradecimento infinito e glorioso de Deus. (Juliana de Norwich (1342-depois de 1416), mística inglesa, Revelações do amor divino, cap. 41)

Padre Jorge Seixas, autor dos textos E-mail
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