A CARIDADE LEVA À COMUNHÃO: DAR, DEIXAR-SE ENCONTRAR E ACOLHIMENTO
Na missa de aniversário da Dedicação de uma Igreja, encontramos uma antífona de comunhão que diz: “A minha casa é casa de oração, diz o Senhor; nela quem pede, recebe; quem procura, encontra; a quem bater à porta, abrir-se-á” (MR p. 1066). Esta antífona coloca diante de nós a realidade da Igreja: Corpo de Cristo. E como qualquer corpo de uma pessoa é a manifestação dessa mesma pessoa; a Igreja é a manifestação de Cristo no mundo. Portanto, somos convidados também a encarnar, pessoalmente e como Igreja, as virtudes desta afirmação do Senhor: acolhimento, deixar-se encontrar e doação. Afirmar que a Igreja é Corpo de Cristo passa por esta dinâmica. Não é possível que o corpo pense, sinta ou atue de maneira diferente da cabeça. Por isso, São Paulo afirma aos cristãos de Filipos: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo”. Todos temos de trabalhar para nos darmos mais aos outros e dar-lhes o que necessitam; para que, tanto a Igreja como cada um de nós; seja ponto de encontro e não de desavença; para que sejamos mais acolhedores, pessoal e comunitariamente. Todos já desejámos coisas que não nos convêm, desconhecendo o que nos faz bem. Acontece, habitualmente, com as crianças que não têm suficiente maturidade e critério para poder discernir. Como Igreja, devemos pensar: damos às pessoas que se aproximam o que pedem, damos o que querem ou, pelo contrário, procuramos dar o que lhes convém? O que acontece quando estas duas situações não coincidem? Acabamos a dar um peixe ou uma serpente? Deus chama-nos a fazer como Ele; portanto, a encarnar os sentimentos de Cristo, completamente fiel à vontade do Pai. E tudo isto imbuído do amor de Deus que, tantas vezes, se manifesta como misericórdia. Na primeira leitura, Deus fala cara-a-cara com Abraão e este procura regatear, revelando a vontade de Deus, que é de salvar as cidades de Sodoma e Gomorra, ainda que só existam dez justos. É como se Deus nos dissesse: qualquer desculpa que me derdes é boa para vos salvar e, assim, poderei demonstrar o meu amor. Assim, se o ponto de referência tem de ser sempre Deus, e ter um coração semelhante ao do Pai misericordioso, temos de estar aberto a Ele e fazer nossos os seus critérios, deixando de lado os nossos, tão profundamente viciados. Dar, deixar-se encontrar e o acolhimento são três aspetos de uma mesma realidade: a caridade que nos leva à comunhão. É por isso que na Dedicação de uma igreja se unia o templo, onde se celebram a Eucaristia e a caridade, expressa nos três verbos acima referidos. Não podemos separar a Eucaristia da caridade, porque a mesa da Eucaristia e a mesa dos pobres são inseparáveis. É assim, porque a Eucaristia é a fonte donde brota a nossa caridade, que fará com que saiamos ao encontro dos outros, que construamos comunhão e nos dêmos. Não é em vão que, na Eucaristia, antes de comungar, se reze a oração do Senhor que encontramos no texto evangélico deste domingo. Aqueles que participam no Corpo de Senhor, são convidados a ser um só Corpo. Os que comemos um só pão, somos filhos do mesmo Pai, que atua como um Pai bom, dando pão e peixes, em vez de serpentes e de escorpiões. Temos de sentir Deus naquele que se senta ao nosso lado. Tudo isto tem uma especial relevância ao domingo, dia em que celebramos a vitória de Cristo sobre o mal e o pecado, que também é a nossa vitória, porque graças ao mistério pascal de Cristo, temos acesso ao Pai e nós somos filhos, no Filho. A comunidade que se reúne para celebrar o domingo é também um sinal visível dos frutos do mistério Pascal: nesta igreja onde nos reunimos “quem pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate à porta, abrir-se-á” nesta igreja, porque Cristo está no meio de nós, convocou-nos para a sua casa de oração e de caridade. |