O VERBO-PALAVRA QUE SE FAZ PÃO-ALIMENTO
Infelizmente, todos nós já tivemos a oportunidade de ver, ao vivo ou nos meios de comunicação social, as filas de pessoas com fome. São sempre longas filas de pessoas à espera de receber uma certa quantidade de alimentos para dar de comer às suas famílias. Também sabemos que, nas cantinas sociais, o número de utentes está a aumentar. Uma grande parte das instituições que se dedicam a esta missão humanitária são instituições da Igreja e muitos dos voluntários, que nelas colaboram, estão motivados pela fé. É sempre de lamentar a situação social atual, mas não podemos deixar cair no esquecimento a contribuição social que os cristãos estão a dar na sociedade atual. Na verdade, sem a fé cristã, a nossa sociedade e o mundo estariam piores. Contudo, recordemos as palavras de Jesus: “'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10).
Neste domingo, no texto evangélico, Jesus coloca-se diante da multidão que vai à procura Dele e avisa as pessoas para que não O procurem, somente, porque Ele lhes deu a comer os pães e ficaram saciados. Jesus quer, também, dar-lhes “o alimento que dura até à vida eterna”. Qual é este alimento? É Ele próprio, o pão da vida.
Não basta afirmar que já sabemos e conhecemos bem esta passagem do evangelho. Não basta dizer: “eu acredito que Jesus é o pão da vida; é por isso que vou à missa e comungo”. Talvez o Senhor nos esteja a pedir que colaboremos na luta contra a fome e contra a miséria no local onde vivemos. Nunca podemos esquecer as palavras que o Filho do Homem pronunciará no fim dos tempos: “Tive fome, e deste-me de comer”. Pensemos em como praticar esta obra de misericórdia.
Neste assunto, é sempre pertinente recordar este princípio sapiencial: “não dar o peixe, mas ensinar a pescar”; “Dá ao homem um peixe e ele alimentar-se-á por um dia. Ensina um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida”. Certamente que a maior parte das pessoas que sofrem fome e miséria no mundo não são culpadas da situação em que se encontram; são vítimas de um sistema económico que procura os maiores lucros para os ricos, mesmo que seja necessário descartar alguns seres humanos que não têm possibilidades de contribuir e de pactuar com o sistema. Apesar das crises económicas, o mundo prospera e a humanidade dispõe de mais recursos! Mas, na realidade, vemos que não é assim para todos. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres não conseguem sair da pobreza e cada vez são mais. Como cristãos, a nossa missão é dar pão a quem tem fome, mas também trabalhar para que a sociedade seja cada vez mais justa e que todos tenham acesso a um trabalho digno e a uma justa remuneração. Os cristãos têm de ser uma força crítica e renovadora. Como diz o Pai-Nosso, temos de trabalhar para que se cumpra a vontade de Deus, “assim na terra, como no céu”. Certamente que a fome e a miséria não são vontade de Deus. Não se trata, aqui, de pertença a uma ideologia partidária ou sindical, mas de aplicar os princípios do Evangelho na sociedade atual.
Todavia, a nossa missão não se reduz a isto. Jesus diz à multidão: “Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará”. Quando comungamos Jesus, o Pão da Vida, convertemo-nos em testemunhas da vida nova que Ele deseja que se estenda por todo o mundo. Há tantas pessoas que, ainda, não conhecem Jesus! Algumas ouviram falar Dele, mas ainda não se encontraram com Ele. Com a nossa vida, temos de dar a Jesus a oportunidade de Se aproximar das pessoas com quem nos relacionamos. A amizade com Jesus é o melhor presente que podemos oferecer aos nossos irmãos: “Senhor, dá-nos sempre desse pão. Jesus respondeu-lhes: Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede”.
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