A DINÂMICA DA COMUNHÃO COM DEUS SUPÕE O ACOLHIMENTO
Deus passa pela vida das pessoas da mesma maneira que passou pela vida de Abraão e Sara. Passa como um estranho, como alguém que, depois, se deve conhecer. Deus passa pela nossa vida, através das circunstâncias e é importante que O saibamos acolher, abrir-lhe a porta da nossa tenda. Por outras palavras, é a experiência da Igreja de Laodiceia no Apocalipse: “Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Abraão, ao acolher o estrangeiro, soube acolher Deus. E hoje? Abro a porta da minha tenda para que Deus possa entrar? Sei reconhecer a passagem de Deus pela minha vida? Muitas vezes, acontecerá de uma forma majestosa e imponente, como a experiência que tiveram os israelitas no Monte Sinai; outras vezes, será uma passagem mais discreta e humilde, como a brisa que Elias sentiu no Monte Horeb. Perante a chamada de Deus, é importante abrirmos a nossa tenda, da mesma forma que Ele nos abriu a sua, tendo acesso à sua intimidade, graças à obra redentora de Jesus Cristo, na sua Páscoa. Um dos pontos importantes do episódio, ocorrido junto ao Carvalho de Mambré, é a fecundidade. Acolher a Deus faz com que sejamos fecundos e produzamos fruto. Vivemos nas nossas tendas da infertilidade, e isso causa-nos angústia, desilusão, com acontecia com Abraão e Sara, porque não tinham filhos. Isto seria o fim da sua linhagem, mas Deus visita-os e torna-os fecundos. Então, abramos a porta a Deus e Ele nos retirará da tristeza, da infertilidade e do desespero. São Paulo fala-nos de um mistério de Deus, presente desde o início, e que foi revelado em Cristo. Este mistério é “Cristo no meio de vós, esperança da glória”. Ou seja, é vontade de Deus aproximar-se da humanidade. Com o pecado, a humanidade afastou-se de Deus, mas Deus não a deixa à mercê da morte e da infertilidade, mas sai ao seu encontro, deixa-se encontrar. Deus, como Pai, sai ao nosso encontro como o pai sai ao encontro do filho pródigo, logo que o vê. Esta vontade já aparece no Antigo Testamento, mas é no Novo Testamento, com Jesus Cristo, que atinge proporções nunca vistas e que nem o coração humano sonhou: Deus faz-se um de nós para que nós consigamos ser como Ele. Cristo faz-se homem para que nós possamos ser divinizados. Se Deus quer ter esta dinâmica de comunhão connosco, como devemos proceder? Procuremos aumentar a vida de oração e criar comunhão à nossa volta. Jesus Cristo introduziu-nos na dinâmica da sua filiação; por isso, é muito importante a revelação de que Deus é “nosso Pai”. A relação, a comunhão com Deus, é, ao mesmo tempo, uma relação filial e de irmandade. Se a história da salvação é Deus aproximar-se de nós, então, é evidente que Maria escolheu a melhor parte. Não só estava fisicamente mais perto de Jesus, aos seus pés, mas tinha toda a sua atenção orientada para a relação de comunhão e amor íntimo com Cristo. Podemos pensar que Marta estava toda atarefada para bem acolher Jesus e esquecia o mais importante: a relação profunda com Jesus. Estava tão inquieta e preocupada que não escutava, e ao não escutar não entrava na dinâmica de comunhão, a única necessária. Marta ainda não tinha entendido que Jesus fazia parte da sua família. Marta, com boa intenção, mas perdida, tinha-se esquecido do essencial. Tantas vezes somos como Marta! Aquilo que Jesus quer não são tanto as nossas boas obras, mas o nosso coração, que repousemos junto dele. Espera o nosso coração e com ele, a nossa vontade, o entendimento, a memória e a liberdade. Deixemo-nos seduzir pelo amor do Pai, de Jesus Cristo e do Espírito Santo. |