DEUS É O FUNDAMENTO DA NOSSA ESPERANÇA
Um homem, que atravessou o Atlântico sozinho num veleiro sem qualquer comunicação ou ajuda, relata a sua experiência num livro. Afirma o seguinte: “sem comida podes viver um mês; sem água, uma semana, mas sem esperança não sobrevives nem uma hora”. Se não tens esperança, se achas que já não há nada a fazer, provavelmente vais te afundar. No caminho da vida, também só andaremos para a frente, se tivermos esperança. Sem uma esperança que dê sentido à vida, afundamo-nos. São Paulo diz-nos que as Escrituras nos ajudam a manter a esperança: “Tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança”. Esta esperança é o Reino dos Céus que João Batista anuncia no evangelho deste domingo. O Papa Bento XVI escreveu uma encíclica sobre a esperança cristã, chamada “Spe Salvi”, onde nos recorda que tínhamos colocado a nossa esperança no progresso; pensávamos que a ciência nos conduziria para um mundo melhor, mas o século passado está cheio de horrores, com genocídios, guerras, totalitarismos que oprimiram o homem como nunca... Ficou claro que o desenvolvimento não nos tornou mais humanos. Perante tudo isto, esta encíclica afirma que só Deus é o fundamento da esperança. A esperança cristã não se apoia em nenhuma instituição humana, em nenhum líder político, em nenhuma descoberta científica, nem no aumento e descida das taxas de juro, nem na ONU... Os esforços humanos são importantes, aplaudimo-los quando obtêm resultados positivos e, nesse sentido, são sinais de esperança, mas os cristãos têm uma esperança maior e definitiva. A esperança cristã é algo mais profundo que não depende do decurso dos acontecimentos. Um cristão pode ter tudo contra ele e, apesar disso, manter a esperança, porque a esperança vem de Deus e não do mundo. No dia do nosso batismo, Deus derrama em nós esta virtude como um dom – juntamente com a fé e a caridade – para que possamos caminhar, apesar do desânimo que as nossas próprias limitações e pecados podem produzir, ou o mal que existe no mundo. E, tal como as outras duas, é uma virtude sobrenatural, porque está acima das nossas capacidades naturais. A esperança cristã não vem de nós mesmos, como se dependesse do caráter de cada um. Não se trata de ser uma pessoa mais ou menos otimista. Pela esperança, colocamos a nossa confiança nas palavras de Jesus, na promessa do céu. E a partir desta visão positiva sentimo-nos com vontade de construir a nossa vida cristã e de melhorar tudo o que nos rodeia. Como diz a encíclica, é verdade que aqueles que não conhecem Deus, mesmo que tenham múltiplas esperanças, no fundo estão sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida. A verdadeira e a grande esperança do homem que resiste, apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus, o Deus que nos amou e que continua a amar-nos até ao fim. Fomos criados para sermos felizes para sempre e esta felicidade definitiva encontra-se em Deus que nos espera no céu. O profeta Isaías, na primeira leitura, descreve esta felicidade com a harmonia que é vivida no monte santo, “Não mais praticarão o mal nem a destruição… o conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas enchem o leito do mar”. Ou seja, a esperança cristã faz-nos olhar para a meta, que é o céu, e olhar para a frente com confiança. Podemos dizer que a fé nos faz acreditar de que o céu existe, que a felicidade existe. A virtude da esperança faz-nos acreditar que o céu é para nós, em concreto. João Batista diz-nos: “Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus”. A conversão supõe colocar Deus como fundamento da nossa esperança, em oposição à tendência de colocarmos a esperança nas coisas terrenas. Reorientemos a nossa vida de tal forma que caminhemos decididamente para o Céu, sabendo que se conseguirmos certos sucessos materiais, mas perdermos de vista o nosso destino final, teremos falhado. |