A FAMÍLIA ENTRA NOS PLANOS DE DEUS
No plano que Deus tem para a vinda do seu Filho ao mundo, São José tem um papel fundamental. Ele é, socialmente, o representante legal da família de Nazaré e com a sua paternidade, se assim se pode chamar, ele dá validade legal à entrada do Filho de Deus no mundo, porque, no seu tempo, a mulher dependia do homem. Mas seria um erro ficarmos na funcionalidade da figura de José. Sendo, neste sentido, a sua presença necessária, o plano de Deus contempla acima de tudo a presença de um pai e de uma mãe. Jesus assume a condição humana em tudo, menos o pecado e, portanto, também assume a dimensão familiar. Neste dia, celebramos a Sagrada Família, a família de Jesus, a família formada pelo casamento de Maria e de José com Jesus. Nesta família, que tem Jesus no centro, temos o modelo que Deus oferece para cada família cristã. Toda a vida de Jesus, palavras e ações, comunicam-nos o que Deus quer partilhar connosco. Além disso, a presença de Jesus na família de Nazaré é reveladora da mensagem de Deus, ou seja, que a família entra nos planos de Deus e que faz parte do desígnio de cada um poder contar com uma família. Um homem e uma mulher que, a partir do seu compromisso de amor, estão abertos à vida e criam um espaço que se preocupa com a vida nascente. Na família, não só se têm de partilhar as despesas e viver sob o mesmo teto, mas colaborar para um enriquecimento mútuo. Na família todos interagem de tal forma que todos possam crescer. Assim, o marido faz a mulher crescer e vice-versa, os pais ajudam os filhos a crescer e estes fazem com que os pais cresçam na paternidade e maternidade. Na Oração Colecta desta Festa, a oração inicial da missa, rezamos assim: “Senhor, Pai santo, que na Sagrada Família nos destes um modelo de vida, concedei que, imitando as suas virtudes familiares e o seu espírito de caridade, possamos um dia reunir-nos na vossa casa para gozarmos as alegrias eternas”. Nesta oração é dito que o modelo da Sagrada Família se torna visível nas suas virtudes: virtudes domésticas, virtudes de casa. Isto significa que, na vida familiar, enriquecer-se uns aos outros significa aprender com a excelência dos outros, a partir das virtudes dos outros membros do núcleo familiar. No Evangelho, olhamos para uma virtude concreta, a obediência de José. O anjo diz-lhe: “Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egito e fica lá até que eu te diga, pois Herodes vai procurar o Menino para O matar”. E depois receberá uma nova informação: “Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e vai para a terra de Israel”. Certamente que José ia pensando em cada momento o que devia fazer porque as comunicações angélicas não eram contínuas. Mas sempre que o anjo lhe aparece num sonho, muda-lhe os seus planos. A disponibilidade de José para a vontade de Deus é total. Ele colocou toda a sua vida ao serviço da missão que Deus lhe confiou: cuidar de Jesus e de Maria. Sabe que, ao cuidar deles, está a servir a Deus e a obedecer à Sua vontade. E é nesse sentido que quer ser fiel à vocação recebida e por isso quer obedecer à vontade de Deus. José não oferece resistência, sempre disponível a refazer os seus planos. Para os nossos dias, não é novidade afirmar que a obediência não é muito apreciada. Na opinião pública, aparece como o oposto à autenticidade, à liberdade, à maturidade... E, por outro lado, a desobediência apresenta-se como um valor do nosso tempo. No entanto, Jesus revela-nos que a obediência é libertadora e, portanto, devemos vivê-la como uma virtude. A obediência à Palavra de Deus liberta-nos das tendências passageiras, das maiorias que dominam, do capricho do nosso próprio ego, e encaminham-nos à verdade e à bondade. Por isso, Jesus anuncia-nos que a verdade nos libertará. Somos livres porque obedecemos à vontade de Deus, pois sem esta obediência seríamos escravos. E, ao mesmo tempo, obedecemos porque somos livres, porque na nossa liberdade escolhemos obedecer. Somos livres porque obedecemos e obedecemos porque somos livres. Na Sagrada Família todos obedecem. Desde o início, Maria afirma: “Faça-se em mim, segundo a vossa palavra” e declara-se como a “escrava do Senhor”. E Jesus, como diz a Escritura, foi obediente até à morte na cruz. Uma obediência amorosa ao Pai do céu, sob a forma de confiança, que aprendeu desde o primeiro momento na casa de Maria e José. |